Perpétua se perpetua
Vamos falar da personagem Perpétua, interpretada magistralmente pela atriz Joana Fomm, da novela Tieta (1989), de volta no Vale a Pena Ver de Novo, de Aguinaldo Silva, inspirada no livro Tieta do Agreste, de Jorge Amado.
Perpétua era beata, ia à missa e se confessava diariamente. Na mocidade, fez promessa de entregar Ricardo, o primeiro filho, ao seminário, como pagamento por ter conseguido se casar com o major Cupertino Batista. Dizia-se decente, recatada e do lar. Viúva, cobria-se de preto dos pés à cabeça, mesmo passado muito tempo da morte do marido militar.
Interesseira, vivia de olho na riqueza da irmã Tieta. Mesquinha, queria tomar o armarinho falido da irmã Elisa e do cunhado Timóteo. Despeitada, tratava mal a madrasta Tonha. Fofoqueira, tomava conta da vida alheia, levando e trazendo com as comparsas Amorzinho e Cinira.
Cínica, enlouquecia o Padre Mariano confessando os pecados dos outros em vez dos próprios. Egoísta, fingia pobreza para Tieta, enquanto mantinha três casas alugadas. Falsa piedosa, comia pouco na frente dos outros, insinuando que não se entregava ao pecado da gula, mas sozinha à noite, empanturrava-se de guloseimas. Fascista, desejava a morte do mendigo Bafo de Bode, pois segundo ela, ele “não servia para nada”.
Moralista, mantinha um segredo cabeludo dentro de uma caixa branca no armário do quarto de dormir. Tudo isso, enquanto bradava aos quatro cantos do agreste: “Deus está do meu lado!”
Fosse hoje e não 1989; fosse Santana do Agreste o Brasil ou o mundo todo, certamente Perpétua votaria no mito, ou em Trump, e seria “pró-vida”, por Deus, pela Pátria e pela família. Perpetuou-se.
Publicado originalmente em 30/01/2025 em https://professorlevon.home.blog/2025/01/30/perpetua-se-perpetua/
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