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Perpétua se perpetua

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Vamos falar da personagem Perpétua, interpretada magistralmente pela atriz Joana Fomm, da novela Tieta (1989), de volta no Vale a Pena Ver de Novo, de Aguinaldo Silva, inspirada no livro Tieta do Agreste, de Jorge Amado. Perpétua era beata, ia à missa e se confessava diariamente. Na mocidade, fez promessa de entregar Ricardo, o primeiro filho, ao seminário, como pagamento por ter conseguido se casar com o major Cupertino Batista. Dizia-se decente, recatada e do lar. Viúva, cobria-se de preto dos pés à cabeça, mesmo passado muito tempo da morte do marido militar. Interesseira, vivia de olho na riqueza da irmã Tieta. Mesquinha, queria tomar o armarinho falido da irmã Elisa e do cunhado Timóteo. Despeitada, tratava mal a madrasta Tonha. Fofoqueira, tomava conta da vida alheia, levando e trazendo com as comparsas Amorzinho e Cinira. Cínica, enlouquecia o Padre Mariano confessando os pecados dos outros em vez dos próprios. Egoísta, fingia pobreza para Tieta, enquanto mantinha três casas alu...

Ainda sobre finados e o fim da história

Há quem considere os cemitérios um desperdício econômico. “Como assim gastar espaço com quem nada mais produz?” – pensam. “Cremar é melhor, sobra pouca coisa e é uma atividade rentável” – imaginam. E dá-lhe justificativas espiritualistas, que eu respeito, mas não concordo: não estão mais no corpo; é só matéria; vivem em outro plano, no vento, nas árvores; e etc… No fundo, subjacente, encontra-se a velha e mofada ética do capital, a cultura do descartável, o prazer pela obsolescência e a objetificação do que é humano, tanto quanto de tudo que há na Casa Comum: animais, rios, montanhas… Se não serve mais, joga-se fora, explora-se o terreno, especula-se o espaço imobiliário. E, junto a isso, o desprezo pela memória e pela história; pela coletividade, sejamos mais específicos. Cemitérios, além de melancolia ou saudade, são também lugares de pesquisa e museus que comunicam mensagens científicas, políticas e sociológicas ao presente. Que dizer dos enfileirados que morreram entre 2020 e 2021,...