Terra Transfigurada: aliança e esperança na Ecologia Integral (2° Dom/Quaresma)


Por Levon Nascimento

A Quaresma não é só um tempo de mudança interior, mas também de transformação do mundo ao nosso redor. Em 2025, a Campanha da Fraternidade traz o tema Ecologia Integral, nos convidando a olhar para as leituras do segundo domingo da Quaresma e perceber a conexão profunda entre humanidade e criação. Nos textos de Gênesis 15, Filipenses 3-4 e Lucas 9, há um chamado claro para reconciliarmos nossa relação com a Terra, ecoando a mensagem do Papa Francisco na Laudato Si’: “Tudo está interligado”.

A aliança da Terra (Gênesis 15,5-12.17-18). Deus leva Abrão para a Terra Prometida, um lugar fértil e cheio de vida, a “Casa Comum” de nossos primitivos pais na fé, onde sua descendência poderá viver (Gn 15,5-7). Mas essa promessa não se limita a um povo — ela inclui a própria terra como um dom para todos. O ritual dos animais partidos (Gn 15,9-10) sela uma aliança firme: a Terra é presente de Deus, não um recurso para exploração desenfreada. No entanto, hoje quebramos esse pacto quando desmatamos florestas e poluímos rios. A Ecologia Integral nos lembra que cuidar da criação não é uma escolha opcional, mas um compromisso sagrado.

Cidadania celeste e responsabilidade na Terra (Filipenses 3,17–4,1). Paulo alerta: “O destino deles é a perdição; o deus deles é o ventre” (Fl 3,19). Quando transformamos a natureza em simples mercadoria, perdemos de vista nossa verdadeira missão. Nossa cidadania está no céu (Fl 3,20), mas isso não significa que devemos ignorar a Terra — pelo contrário, somos chamados a cuidar dela. A esperança na ressurreição inclui também a “libertação da criação” (Rm 8,21). Por isso, a Ecologia Integral é um ato de fé: protegemos a Terra porque esperamos “um Salvador que transformará nosso corpo” (Fl 3,21) e renovará toda a criação.

A glória que transforma o mundo (Lucas 9,28-36). No Monte Tabor, Jesus se transfigura diante dos discípulos, e Moisés e Elias falam sobre seu sacrifício, que trará redenção a toda a criação (Lc 9,31). A voz do Pai ordena: “Escutai-o!” (Lc 9,35). E o que Jesus faz depois? Ele desce da montanha para alimentar multidões (Lc 9,10-17), curar os doentes e lutar contra a injustiça. A Transfiguração não é uma fuga da realidade, mas um convite a enxergar que o mundo pode ser transformado. A Ecologia Integral nos desafia a ouvir esse chamado e buscar mudanças reais, adotando modelos econômicos e sociais que promovam a vida, não a destruição.

A Quaresma de 2025 nos propõe um jejum diferente: abrir mão da ganância para que a Terra possa respirar. A Campanha da Fraternidade, à luz dessas leituras, nos convida a sair do egoísmo e abraçar uma aliança de cuidado com a criação. Que a promessa feita a Abrão (Abraão) — uma Terra onde corre leite e mel — nos inspire a construir, hoje, um mundo onde a glória de Deus se manifeste em cada gesto de justiça e cuidado com a vida.

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