Trabalhar menos, trabalhar todos, produzir o necessário, distribuir tudo


A proposta da deputada federal Erika Hilton (PSOL/SP) de acabar com a escala 6×1 e reduzir a jornada de trabalho semanal de 44 para 36 horas não é apenas uma atualização das relações de trabalho, mas um passo importante em direção a uma sociedade mais justa, sustentável e que valoriza a qualidade de vida dos trabalhadores. A PEC (Proposta de Emenda à Constituição), que sugere uma semana de trabalho de quatro dias – com ajustes feitos por meio de acordos coletivos –, já recebeu amplo apoio popular e de diversos setores políticos. Além disso, está alinhada com tendências globais, principalmente europeias, que mostram que repensar o modelo de trabalho pode aumentar a produtividade sem prejudicar a produtividade e os direitos dos trabalhadores.

Em uma coletiva de imprensa, Erika Hilton destacou:

“Já existem estudos políticos e econômicos que mostram que é possível repensar a jornada de trabalho, como foi feito em outros países, adaptando essas experiências à nossa realidade.”

Essa fala reflete a necessidade urgente de atualizar as práticas de trabalho para que se adequem às novas realidades econômicas e sociais. A escala 6×1, que obriga os trabalhadores a trabalhar seis dias seguidos com apenas um dia de descanso, é vista por muitos como um resquício de modelos ultrapassados e exaustivos, que adoecem física e mentalmente os trabalhadores, além de não levarem em conta os desafios da mobilidade urbana, como meios de transporte precários, demorados e superlotados.

A discussão ganha ainda mais força com o apoio do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador da cidade do Rio de Janeiro Rick Azevedo (PSOL). O VAT tem sido um importante agregador na luta por condições de trabalho mais humanas. Rick Azevedo, que teve experiência pessoal com a escala 6×1 e foi motivado por isso a agir, afirmou em uma rede social:

“O mercado reclama da ‘falta de mão de obra’, mas não quer admitir o óbvio: as pessoas estão cansadas de ser exploradas. A escala 6×1 destrói a saúde, rouba o tempo de vida e paga mal. Ninguém quer adoecer para enriquecer patrão.”

Esse posicionamento reforça a necessidade de transformar o trabalho em algo que permita o desenvolvimento humano, em vez de ser um mecanismo de exploração. A redução da jornada, defendida tanto por Erika Hilton quanto pelo movimento VAT, é vista como uma forma de diminuir o estresse, reduzir os casos de burnout e promover uma melhor qualidade de vida, além do aumento da produtividade, uma vez que as empresas contarão com pessoas humanas menos adoecidos em seus processos produtivos.

“Trabalhar menos, trabalhar todos, produzir o necessário, distribuir tudo”, antigo lema das lutas dos trabalhadores ao longo da história dos séculos XIX e XX, pode ser retomado na atualidade e resume uma visão democrática e sustentável para o trabalho e a economia.

  1. Trabalhar menos: Reduzir a jornada de trabalho para que os trabalhadores tenham mais tempo para cuidar da saúde, estar com a família e se desenvolver pessoalmente.
  2. Trabalhar todos: Que a redução da jornada seja um direito de todos, e não um privilégio de poucos, garantindo que ninguém seja excluído ou explorado por longas horas de trabalho.
  3. Produzir o necessário: Uma economia focada em atender às reais necessidades da sociedade, evitando o desperdício e a concentração excessiva de riquezas.
  4. Distribuir tudo: Distribuição justa dos frutos do trabalho, para que todos possam se beneficiar do que é produzido.

Além de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, a redução da jornada de trabalho também tem impactos ambientais significativos. Menos deslocamentos diários e uma organização mais racional do tempo de trabalho podem reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEEs) e o consumo excessivo de recursos naturais. Assim, o modelo proposto pela PEC alia justiça social à sustentabilidade ambiental, promovendo o desenvolvimento mais equilibrado e consciente.

A PEC contra a escala 6×1 representa um passo fundamental para a construção de uma sociedade em que o trabalho cumpra sua função social sem sacrificar a saúde e o bem-estar das pessoas. Com o lema “Trabalhar menos, trabalhar todos, produzir o necessário, distribuir tudo”, reforça-se a ideia de que a transformação das relações de trabalho é essencial para que todos tenham acesso a ocupação digna e a vida mais plena, sem excessos e desigualdades. É um chamado para que o Congresso, os empregadores e a sociedade civil se unam na construção de um novo modelo de trabalho, onde o desenvolvimento econômico esteja, antes de tudo, a serviço do bem-estar coletivo.

Essa mudança é urgente e necessária – afinal, ninguém – e nem a Casa Comum – deve continuar pagando um preço tão alto em saúde, tempo, sustentabilidade e dignidade por um modelo que já não faz sentido nos dias de hoje.

Publicado originalmente em 26/02/2025 em https://professorlevon.home.blog/2025/02/26/trabalhar-menos-trabalhar-todos-produzir-o-necessario-distribuir-tudo/

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